domingo, 11 de fevereiro de 2007

Constatação

Galalau, com quem fui particularmente dura ano passado, me liga:
- Aê, fessora, tem jeito da gente ter aula esse semestre?
- Puxa, Fernando, tem sim. Vc é a última pessoa do mundo que eu pensei que fosse querer ter aula comigo de novo. A gente brigou tanto ano passado!
- Aê, fessora, a senhora é minha truta.

Truta. É isso. Virei truta, môs fios.

Da Fal, a blogueira mais... mais-mais querida da blogosfera.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

o que eu aprendi

então eu conto historinha bonitinha pra começar.
Tem também as atrapalhadas, mas deixa pra depois.

Éramos eu e o segundo ano do segundo grau, e eu tinha esse professor de português que era o melhor do mundo. Aquele de quem todo mundo tinha medo, que tinha um bigode, uma pasta 007, uma mecha de cabelo branco na testa e uns olhos muito sérios.

Esse professor me ensinou três coisas muito grandes.

A primeira foi quando ele lia o que a minha displicência escrevia, me olhava por cima dos óculos, e dizia: "você viu o que você fez?" não, eu não tinha visto. E foi assim que ele me mostrou que eu conseguia fazer arranjos realmente complicados sem precisar calcular.

A segunda foi quando eu gostava desse moço e não sabia o que fazer, porque era toda uma situação delicada. Mesmo sem eu ter aberto a boca, sem saber de nada, numa aula de Carlos Drummond de Andrade ele me olhou de novo por cima dos óculos e disse: "senhorita, (e aí entra o próprio Drummond que a gente tava lendo) não colhas do chão o poema que se perdeu." e foi assim que eu aprendi a let go.

A terceira foi antes de ele me conhecer, quando aos 45 ele descobriu um câncer de próstata que ele optou por não tratar. Ele morreu pouco depois de eu me formar, lá pelos quase 60, e eu ainda fui uma das poucas a ir lá vê-lo na cama, sem conseguir levantar. E foi assim que ele me mostrou que a gente também escolhe como vai morrer.

O resto todo foi muito pequeno diante disso. e até hoje eu tenho saudades suficientes pra ver de vez em quando aqueles olhos por cima dos óculos, e a pasta 007, e a risada que ele dava quase nunca.
De preferência depois de me perguntar se eu tinha visto o que foi que eu fiz.

Naty, que espera que ele saiba que fez um bom trabalho comigo.


Esta é a história da Naty, que escreve gostosamente e que deletou seus blogs. Não entendo o porquê.